sábado, 12 de abril de 2008

ENTREVISTA: Bruno Rodrigues desvenda o webwriting

Um pouco mais de conhecimento para os nós designs e futuros designs, uma entrevistinha básica com o ilustre Bruno Rodrisgues.


04/04/2008 por Marcos BinENTREVISTA: Bruno Rodrigues desvenda o webwriting



Não são apenas os hoaxes (boatos virtuais) e os spams que infestam a rede com conteúdo indesejado, impróprio ou, no mínimo, duvidoso.
A internet está repleta de clichês sobre a redação on-line, o chamado webwriting. Frases como “As pessoas não gostam de ler em frente à tela” e “A internet está empobrecendo a Língua Portuguesa” disseminam-se na velocidade da luz e viram teoria sem que se prove a veracidade delas.
Autor do livro “Webwriting – Redação & Informação para a Web” e coordenador do curso de pós-graduação Gestão em Marketing Digital das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), Bruno Rodrigues contesta algumas dessas “verdades” em entrevista ao Newwws. Confira.
Há pouco tempo, você falou numa palestra que é preciso melhorar o conteúdo publicado na web. Mas como fazer isso diante da idéia de que não se deve escrever muito na internet? É possível melhorar a qualidade diminuindo a quantidade?
Há muitos clichês em mídia digital, assim como em qualquer outra área. O “escrever pouco na internet” é um deles. O ambiente digital é constituído de “camadas de informação”. A segunda camada, ou seja, o texto principal de uma informação, aquele que vem após o acesso a um destaque de primeira página, exige a concisão, mas nada tem a ver com “não se deve escrever muito” na rede. Ocorre que, nesta camada, o visitante procura os aspectos básicos da informação. Se serão cinco ou dez linhas, é apenas conseqüência. O detalhamento da informação virá nas páginas subseqüentes. Muito desta técnica, que é resultado de testes, baseia-se na necessidade de que o visitante acesse camadas mais profundas, assim como conheça outros temas abordados no site. Só assim ele poderá virar “cliente”, ou seja, se cadastrar, que é o pote no final do arco-íris da web.
Algumas pessoas acreditam que a linguagem coloquial e a rapidez na atualização do conteúdo estão empobrecendo o texto na internet. Qual a sua opinião sobre isso?
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que informação web não é sinônimo de notícia on-line; há que separar a última das restantes. Enquanto o jornalismo na rede é caracterizado pela rapidez, isso não acontece nos outros tantos perfis de sites da internet. Ainda assim, se a questão são os erros resultantes desta “pressa” em dar notícias, é uma característica do meio, que irá se refinar ao longo dos anos. Não acho que será assim para sempre. Quanto ao empobrecimento da língua na web, me vem sempre à cabeça uma frase definitiva: “A Língua Portuguesa está empobrecida, rígida, estratificada, falta sentido e beleza a ela. É preciso lhe dar plasticidade, refundi-la no tacho, distendê-la, trabalhá-la, dar-lhe músculos”. É de Guimarães Rosa, escrita em 1946.
Você acha que o público em geral já aceita bem sites jornalísticos que utilizam linguagem própria de internet, como “vc”, “tb”, e não colocam acentos nas palavras? Há um paradoxo entre o sucesso desses sites e a simplicidade deles?
Não vejo paradoxo. Isso não é uma distorção, é um fato. E não temos distanciamento histórico o bastante para saber se, de alguma forma, isso veio para ficar. Criaram uma Santa Inquisição para a Língua Portuguesa na web, mas, assim como na primeira, a História há de julgá-la corretamente.
Existem regras definidas em webwriting para grupos de palavras, como aquelas ligadas a tempo, ou o uso delas varia de acordo com os manuais de redação dos jornais?
O webwriting se preocupa com a palavra como elemento de acesso à informação, e não como um elo de encadeamentos para constituir uma mensagem. Costumo dizer que o redator tradicional é amante da frase, enquanto o gestor da informação digital é amante da palavra. A primeira gera idéias; a segunda, profundidade. Na web, esse é o foco da palavra: representação/persuasão/acesso à informação.
Enquanto discute-se muito a suposta necessidade de cadeiras específicas nas faculdades de jornalismo – web, rádio, TV etc. – é comum ver jornalistas que não têm noções básicas da Língua Portuguesa. Você não acha que as escolas deveriam estar mais atentas ao que vem antes da especialização, ou seja, aos conhecimentos que são comuns a todos os jornalistas?
Acho, mas é o cúmulo, em pleno século 21, continuarmos a associar jornalismo a “saber português”. Como você bem colocou, assim como outros conhecimentos básicos, o “saber a língua” é essencial. Mas este é o feijão-com-arroz da atividade. O que faz do jornalista um profissional único é a capacidade de apuração; este, sim, é o conhecimento e a técnica que se aprende e desenvolve, e aquele que tem poder de transformar a sociedade. Se o jornalista continuar a focar apenas na redação, esta será uma atividade sem futuro, ainda mais com a web e seu jornalismo participativo e colaborativo.

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